Qual
a importância da Amazônia para o mundo?, texto de Geraldo Mendes dos
Santos
A importância da
Amazônia se confunde com a própria importância do mundo em que vivemos; assim,
mais que um ecossistema, região ou bioma, mais que a porção mais verdejante do
planeta, a Amazônia é um poema
Geraldo Mendes dos Santos é
pesquisador do Inpa. Texto enviado pelo autor ao ‘JC e-mail’:
‘Qual a
importância da Amazônia para o mundo?’ - esta é a questão que me foi formulada
ontem, por um colega cientista, recomendando que fosse respondida numa única
frase ou parágrafo curto.
Não sei se responderei bem, mas agradeço pela
oportunidade e especial deferência e peço licença para utilizá-la como tema
dessa crônica.
A questão está formulada de forma clara e direta, mas se
me fosse permitido intervir em seus termos, trocaria a palavra ‘importância’ por
‘significado’, pelo fato de que atualmente ‘importância’ está fortemente
vinculada à idéia utilitarista de produção, patrimônio e valor econômico.
No meu entendimento, ‘significado’ vai além disso, permitindo
adentrar-se num universo mais amplo e abrangente e onde a cosmovisão, os signos
e os sentimentos também estejam incluídos.
A partir de elementos
puramente científicos, talvez a Amazônia pudesse ser definida com base em suas
características geológicas, geográficas, climáticas, físicas e bioquímicas.
Quanto a isso, embora se diga que ainda há muito a ser pesquisado, a
literatura está repleta de aforismos, metáforas e superlativos, do tipo: maior
bioma, maior diversidade biológica, maior bacia hidrográfica, maior cobertura
contínua de floresta, maior reserva de carbono, maior rio, maior volume d`água,
maior reserva de minérios, pescado e madeira, maior banco genético do planeta,
etc.
Se a essas sentenças descritivas fossem atribuídas expressões
numéricas, o enunciado só se alteraria na forma, não no conteúdo. Assim,
poder-se-ia afirmar que a Amazônia representa: 3/5 do território brasileiro,
4/10 do continente sul- americano, 1/3 da floresta latifoliada, 1/5 da água
doce, 1/10 da biota, 1/20 da água, 1/21 da superfície e 3/10000 da população
total do planeta, etc.
Por mais criteriosos e respeitáveis que sejam
esses enunciados, eles parecem simples recitações numéricas, dizeres que pouco
dizem, imagem pálida da verdadeira essência amazônica.
Decididamente, as
Ciências Físicas e Naturais não são suficientes para dar uma definição que possa
abranger a autêntica grandeza, os enigmas e as belezas dessa realidade majestosa
encoberta pela palavra Amazônia.
Por outro lado, apenas as Ciências
Humanas, por mais magníficos e atraentes que sejam seus argumentos lógicos e
dialéticos, não propiciam arcabouço seguro para isso. Assim sendo, é imperioso
tentar unir as duas, ou melhor todas as vertentes do conhecimento, para
vislumbrar a possibilidade de retratar a Amazônia da forma mais completa
possível.
É oportuno enfatizar o aspecto sintético de uma descrição
desse tipo (uma frase sobre a importância da Amazônia para o mundo), porque a
consistência e a sabedoria de um enunciado parecem aumentar à medida que diminui
o número de palavras empregadas para isso.
Isso significa que a melhor
maneira de se definir algo profundamente complexo, enigmático e bonito, como a
Amazônia, deve ser feito com o menor número possível de palavras, de preferência
apenas uma. Disso advém uma questão complementar: que palavra seria essa?
Recorro aos conhecimentos adquiridos, dou asas à imaginação, reflito
profundamente, apelo para o senso linguístico e estético de que disponho e uma
palavra me aparece, que julgo a mais satisfatória para sintetizar a essência
amazônica: Poema.
Eis, então, a frase proposta: ‘A Amazônia é um poema’.
Caso fosse necessário complementar a frase, talvez para atender de modo mais
apropriado ao formulador da pergunta, ela ficaria assim formulada: ‘A
importância da Amazônia se confunde com a própria importância do mundo em que
vivemos; assim, mais que um ecossistema, região ou bioma, mais que a porção mais
verdejante do planeta, a Amazônia é um poema, um santuário da vida, uma
expressão do ato criativo, a manifestação divina na terra’.
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